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Emerson Tchalian |
Depois de cinco anos como bancário, ele abandonou o trabalho para iniciar a carreira na televisão. E a "brincadeira" já dura 16 anos. O paulistano Emerson Tchalian Ferreira, conhecido na TV apenas pelos dois primeiros nomes, é o entrevistado de hoje do blog.
Formado em jornalismo pela Universidade São Judas, em São Paulo, o profissional encara os desafios do dia-a-dia com seriedade. Autêntico, conta histórias engraçadas que já vivenciou, como a de um companheiro cinegrafista que não parava de rir em velórios.
Ávido por bons trabalhos, Emerson Tchalian foi o único repórter brasileiro presente nos Jogos Paraolímpicos do México, em 1999, quando a mídia, de modo geral, dava pouca importância ao evento. Na conversa, o jornalista ainda fala o que pensa do mercado de trabalho: "saturado".
Tchalian já trabalhou em diversas editorias e chegou até a ir a recantos esquecidos do planeta. Acompanhou a visita de oftalmologistas da Unifesp a um vilarejo "isolado do mundo", na Amazônia. Hoje, ele é editor-regional da Rede TV! Nordeste e mora na cidade considerada um dos grandes paraísos brasileiros: Fortaleza. Acompanhe o bate-papo.
Leandro Martins - O que achou do curso de graduação quando estudou jornalismo?
Emerson Tchalian Ferreira - O curso me apresentou as noções básicas do Jornalismo. Nos primeiros anos, confesso que muitas matérias não me despertaram nenhum interesse. Alegria mesmo foi o último ano, quando fomos para as aulas práticas. Aí sim deu para sentir o que viria pela frente.
LM - Você acredita que a faculdade prepara bem uma pessoa para o mercado de trabalho?
ETF - Não...acredito que a pessoa já nasce com potencial. Na verdade acredito em dons: para música, teatro, jornalismo...etc. A faculdade te dá noções básicas...e bem básicas!
Para encarar o mercado é preciso de muita força de vontade, disposição para a dura vida dura das redações e paciência para subir alguns degraus.
LM - Em quais empresas de mídia já trabalhou?
ETF - Minha primeira emissora foi o SBT-SP, onde trabalhei durante 3 anos no "TJ Brasil", na época comandado por Bóris Casoy. Depois fui para a TV Unifesp (Univ.Federal de SP), onde fui o primeiro repórter da tv e também apresentador de programas de saúde veiculados no CNU e na TV Gazeta-SP. Desde 2001, estou na RedeTV! Comecei como repórter esportivo, depois passei à editoria geral e agora, em Fortaleza, como editor-regional do Nordeste.
LM - Como é sua rotina hoje?
ETF - Foram 7 anos cobrindo esporte pela RedeTV!. Hoje me dedico à implantação da programação local da RedeTV! no Nordeste. Vamos produzir um jornal regional que será transmitido para todos os estados nordestinos. Já montamos a equipe e agora trabalhamos na parte estrutural e editorial. Minha rotina na tv começa na parte da manhã e só termina à noite... claro sem horário pra sair. Enquanto nosso jornal não vai ao ar, temos o desafio diário de buscar pautas de interesse nacional a serem exibidas no RedeTV! News e nos outros noticiários da RedeTV! Coordenar e manter a redação em ordem, com tudo funcionando bem, como se fosse uma engrenagem, também exige muito. Também sou responsável pelo jornalismo da RedeTV! em Salvador, na Bahia.
LM - O que já fez ou faz fora do esporte?
ETF - Já fui repórter de saúde. Foram 3 anos de muito aprendizado, vivenciando os dramas da saúde. Me deparei com cenas e situações que me fizeram repensar muitos conceitos. Os principais momentos foram a cobertura dos Jogos Paraolímpicos no México, em 99, quando as emissoras brasileiras ainda não se interessavam pelo assunto. E um documentário na Amazônia, também em 99, mostrando uma expedição de oftalmologistas da Unifesp num vilarejo esquecido em plena selva amazônica.
VIDA DE REPÓRTER: JORNALISTA GRAVA
PASSAGEM EM QUALQUER LUGAR, ATÉ NO MEIO DO MATO!
LM - Quando decidiu que ia trabalhar com mídia? Como foi que tudo aconteceu?
ETF - Nasci com o desejo de ser jornalista. E eu digo nasci porque essa é a única explicação. Ninguém na família passou nem perto da área de comunicação. Mas eu sempre fui apaixonado por jornalismo, televisão e rádio!!! (Nota do blogueiro: faço minhas as suas palavras!)
LM - Como foi seu início de carreira? Quais as principais dificuldades e obstáculos encontrados?
ETF - Depois de trabalhar 5 anos como bancário (Bradesco e Banco Bandeirantes) decidi que era preciso começar minha carreira na televisão. Não aguentava mais calcular faturas e fazer movimentações financeiras. Aliás, números não são o meu forte. Então, no terceiro ano da faculdade, descobri que um importante diretor de tv era um conhecido da família. Procurei ele e pedi uma chance, mesmo não sendo formado. Ele não parecia disposto a me receber. Então, certo dia, pedi para a secretária dele avisá-lo que eu estava faltando ao trabalho só pra conversar com ele na Vila Guilherme, antiga sede do SBT. Desse modo ele me recebeu e me deu uma chance na função de rádio escuta. Foi uma das maiores alegrias da minha vida e nunca tive privilégios pela indicação. Na emissora enfrentei muito preconceito, principalmente dos mais experientes, que não respeitavam as limitações de um jovem estudante. Mas superei todas as situações e aprendi com cada uma delas.
LM - Como avalia o mercado de trabalho na mídia hoje?
ETF - Hoje, com a multiplicação dos cursos, o mercado ficou saturado. Claro que não há vagas para todos que se formam. Mas a chegada das novas mídias abriu um pouco mais espaço neste disputado mercado. Quem tem talento e é persistente chega lá.
LM - Alguns jornalistas tornam-se amigos de fontes pela convivência. Você acredita que o jornalista ser amigo da fonte ajuda ou atrapalha o trabalho? Em que sentido?
ETF - É uma relação muito delicada e o ideal é evitar a amizade. O compromisso do jornalista deve ser com a notícia !!!
LM - Em algumas empresas de diversos setores existe sempre uma puxada de tapete. Você já se sentiu alvo de perseguição no meio? Sentiu-se traído?
ETF - Não... nunca! Pelo menos nada que mereça destaque.
LM - Como é cobrir um grande evento como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Dorme-se pouco e trabalha-se muito?
ETF - Nas Paraolímpiadas do México, em 1999, deu pra perceber que é exatamente isso. Você não tem tempo pra nada. Acorda, toma um rápido café e já vai para os locais de competição. Passa o dia inteiro atrás de personagens, histórias, curiosidades... depois organiza as informações, fecha o texto e... quando vê já chegou a hora de dormir. Mas só um pouquinho porque o outro dia já está pra começar.
LM - Quantas edições de cada uma você já cobriu?
ETF - Cobri as Copas do Mundo de 2002 e 2006 com reportagens no Brasil. E as Olimpíadas de 2004 e 2008 também à distância. Sempre pela RedeTV! O maior evento in loco foram os Jogos Paraolímpicos do México, em 99. Aliás, fui o único repórter da tv brasileira que cobriu o evento!
LM - Qual foi a maior emoção da sua carreira até hoje?
ETF - São 16 anos de carreira na televisão. As maiores emoções foram os Jogos Paraolímpicos do México e o documentário na Amazônia, experiências felizes que nunca vão se apagar de minha memória. Mas, os fatos tristes também emocionam. Jamais vou me esquecer do acidente da Tam, em 96, e dos Mamonas no mesmo ano. Vivi de perto essas duas tragédias.
LM - Cobrir outros esportes que não o futebol é mais fácil ou mais difícil?
ETF - Mais difícil. Porque o brasileiro, em geral, só acompanha o futebol. Os outros esportes ele assiste quando não tem opção. E é claro que é muito mais complicado falar sobre o que você não tem domínio. As regras do futebol, as polêmicas, as curiosidades, tudo isso o brasileiro sabe bem. Agora o que é set point, meia de rede, cem metros crawl, etc... isso poucos sabem! Claro que o jornalista também não domina todos os esportes, mas temos de estar preparados para tudo.
LM - O que faz para preservar a voz?
ETF - Nunca tomei nenhum cuidado! Apenas não fumo e não bebo.
LM - Como vê a disputa pela transmissão do futebol brasileiro em 2012? Acha certo um regime monopolista?
ETF - É uma triste página da televisão e do nosso futebol. Infelizmente muitos interesses estão por trás desses direitos. Só tenho que lamentar!
LM - Para os estudantes de jornalismo ou jornalistas recém-formados que pensam que o jornalismo é só televisão e que vão ficar famosos, o que tem a dizer? E o que falaria para aqueles que pensam que não vão trabalhar muito e nem aos finais de semana?
ETF - Jornalismo é pra quem gosta de jornalismo. Tem que ter a notícia na veia! Tem que pensar em jornalismo o tempo todo. Esquecer feriados, Natal, Ano Novo... festinhas de família. Agora quem pensa que vai ficar famoso ou ganhar dinheiro tem que buscar outra profissão. Jornalismo é por prazer a amor à profissão.
LM - O que gostaria de fazer na carreira e ainda não conseguiu realizar?
ETF - Graças a DEUS realizei muitos sonhos na carreira. O principal foi ser repórter esportivo.Hoje não sonho, apenas alimento os desafios... e são muitos.
TINO MARCOS É A REFERÊNCIA JORNALÍSTICA DE TCHALIAN
LM - Você acha que um jornalista esportivo deve assumir seu time de coração?
ETF - Enquanto ele estiver trabalhando como jornalista esportivo não deve revelar nem por tortura. Sofremos muito nos estádios por conta de algumas pessoas intolerantes, que não chamo de torcedores. Eles descontam em você quando o time não está num dia feliz. Já levei cusparada na cara, fui ameaçado de agressão, expulso de quadra de torcida... isso tudo sem revelar meu time, que, aliás, todo jornalista tem! Mas sempre fui profissional, nunca misturei a paixão com a profissão.
LM - Quem são os jornalistas e/ou profissionais da comunicação que mais admira?
ETF - No esporte o Tino Marcos pra mim é insuperável, referência de texto, criatividade, postura. (Nota do blogueiro: concordo em gênero, número e grau!) Admiro também o Pedrinho Bassan, excelente pessoa e texto brilhante.
LM - Tem alguma história curiosa ou engraçada da profissão?
ETF - Histórias são muitas. Momentos engraçados, incontáveis. Já passei por maus bocados por causa de um amigo cinegrafista que não consegue conter o riso em velórios. Pior que ele resolveu rir enquanto eu gravava com o filho do falecido. Você imagina a saia justa? Quase perdi a concentração numa entrada ao vivo quando o auxiliar de câmera começou a desfilar na minha frente. E, num ao vivo do Corinthians, fui chamado quando a equipe ainda fazia os últimos acertos e entrei no ar sem o microfone. Graças a DEUS uma ágil produtora me entregou o microfone enquanto eu aparecia balançando a cabeça fingindo que estava ouvindo a pergunta... foi tenso mas deu certo!
LM - É possível conciliar família e trabalho?
ETF - Ou você concilia trabalho e família ou você não constitui família. Não tem outra opção. No meu caso, sempre procurei dividir bem as coisas. Sou casado e tenho dois filhos.
LM - Deixe uma mensagem para quem pensa em seguir carreira no jornalismo.
ETF - Jornalismo é paixão, envolvimento, entrega. Ser jornalista é um privilégio. O que o mundo vê pela tv, pelos jornais... o jornalista testemunha com seus próprios olhos. Por isso, recomendo que somente siga essa honrosa carreira quem realmente tem a notícia na veia. Não faça jornalismo como segunda opção, o jornalismo tem que ser prioridade em sua vida. No jornalismo a disputa é grande, mas sempre tem lugar para os persistentes. Aliás, a persistência deve ser uma ferramenta do jornalista. Nunca se contente com o básico, busque sempre algo mais!